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Ética e etiqueta em redes sociais para a área médica


12/09/2014
Lilian Perosa e Diana Medeiros

O mundo está on-line e nossa presença cada vez mais frequente nas redes sociais só reforça esse modo de existir: frenético e instigante. Constantemente checamos o Facebook, interagimos no twitter, postamos fotos no Instagran, nos divertimos no YouTube.

No Brasil, um país com mais de 94,2 milhões de internautas, as mídias sociais já se estabeleceram como veículos de comunicação. Foi-se o tempo em que os plantões de TV eram os portadores de notícias em primeira mão. É um caminho sem volta.

Todavia, por ser um fenômeno recente, os comportamentos nesse ambiente ainda estão se definindo, o que explica os excessos equívocos cometidos com certa frequência. A mesma velocidade que agiliza o acesso a informações relevantes também pode gerar prejuízos, permitindo que posts ou comentários danosos se espalhem rapidamente pela rede.

Tanto quanto outras categorias profissionais, médicos, enfermeiros e profissionais de saúde em geral enfrentam atualmente um lema de personalidade digital. Afinal, como se comportar nas redes sociais? É possível separar o pessoal do profissional? Relacionar-se com pacientes sem correr riscos éticos e de interpretação? Brincar com o cotidiano sem afetar sua credibilidade no momento de abordar assuntos mais sérios?

Foram essas principais dúvidas que buscamos responder no seminário sobre Ética e Etiqueta nas Redes Sociais para Área Médica, voltado aos profissionais da saúde do Hospital das Clínicas da USP, no mês de Abril. Trata-se do segundo encontro realizado com esse objetivo, e certamente outros virão, pois o tema assume relevância na agenda da categoria.

O fato é que o mundo on-line não está separado do mundo real. Na verdade, ele impõe uma responsabilidade ainda maior, porque o relacionamento nas redes é direto, sem filtros como em outras mídias. A criação de dupla personalidade do usuário pode, sim, comprometer, às vezes de forma irreversível, não somente sua reputação pessoal, social, profissional, mas também a de outros perfis. Sendo assim, a educação, o bom senso e a ética valorizados no mundo real devem valer igualmente para o mundo virtual.

Tendo isso em mente, os próximos passos serão relativamente simples. Em redes sociais como Facebook, é possível definir níveis de privacidade e controlar o conteúdo que será exposto para determinados amigos. Mas no Twitter e no Instagran, que não oferecem esse recurso, é mais difícil controlar quem verá determinada publicação.

Posts mais brincalhões não interferem na cedibilidade de um profissional, desde que criados em espaços específicos para esses momentos de descontração. Entenda-se: brincadeiras regidas pelo bom senso e em acordo com os princípios éticos claramente estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina.

Mas, na prática, não é isso que vem acontecendo. Uma busca rápida pela expressão #plantão no Instagran mostra muitos profissionais de saúde ignorando essas diretrizes. Post irresponsáveis, muitas vezes expondo pacientes, diagnósticos ou condutas inadequadas, tornaram-se alvo de preocupação de gestores de hospitais, casas de saúde e de sociedade em geral. Atingem a credibilidade das instituições e do próprio profissional. Caso de médicos punidos por atitudes inadequadas registradas e compartilhadas em redes sociais são cada vez mais frequentes.

Além da questão comportamental, é de bom tom evitar nas redes sociais comentários e reclamações trabalhistas ou mesmo questões administrativas, independente do seu campo de trabalho. Mas a vertente mais delicada dessa discussão é a que envolve a proximidade que a rede cria entre médico e paciente. Com a extrapolação da linha entre o pessoal e o profissional, torna-se difícil manter uma postura aceitável.

O ideal é que, nessas situações, o médico mantenha o mesmo comportamento que teria frente a frente com seu paciente, inspirando-lhe confiança. No caso de dúvidas e perguntas feitas por meio das mídias sociais, o que deve sobressair é a orientação do Código de Ética Médica, que veda consulta, diagnóstico ou prescrição em meios de comunicação de massa. Ele pode orientar, mas jamais descuidas do sigilo profissional.

Apesar de todos esses cuidados e da desconfiança que ao usar esses recursos, está comprovado que a internet e as redes sociais podem oferecer inúmeras oportunidades para derrubar barreiras físicas e melhorar o trabalho desses profissionais. Por meio de Blogs e comunidades científicas, é possível as redes para trocar experiências e se relacionar com especialistas em outros países, por exemplo. Procurar as comunidades certas e construir relacionamentos interessantes baseados na credibilidade e expansão de conhecimento está ao alcance de todos.

No fim das contas, as redes sociais podem ser grandes aliadas, desde que usadas com regras simples de boa convivência: bom senso e responsabilidade.