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Mais rigor na venda dos remédios de tarja vermelha


03/02/2013
Jornal A Gazeta   |   Daniella Zanotti

Os anti-inflamatórios são acessíveis, geram alívio quase imediato e, para muitas pessoas, parecem totalmente inofensivos. Os especialistas alertam, porém, que o mau uso desses medicamentos pode causar problemas renais, gastrite, úlcera, sangramentos no sistema digestivo, alergias e até problemas no coração.

Esses riscos também preocupam a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que criou um grupo interessado em discutir as novas regras de cobrança da receita dos medicamentos de tarja vermelha - como anti-inflamatórios.

A chamada “força de trabalho” deve, em seis meses, mapear o atual cenário de venda desses remédios e apresentar medidas para aumentar o controle e o rigor na exigência de receita médica.

O reumatologista José Mário Corassa afirma que não existe anti-inflamatório 100% seguro. “Todos podem fazer subir a pressão, porque retêm líquido, e causar problemas renais. Em muitos casos, o paciente só descobre quando a situação é irreversível. Outro efeito do uso frequente é a chamada leucopenia, que é a queda de glóbulos brancos”, explica o especialista.

Dores fortes na articulação do quadril fizeram com que o comerciante Leonel Zandonadi, 67 anos, tomasse anti-inflamatório durante cinco anos. O efeito colateral foi uma anemia severa. “Às vezes, minha pressão ficava em 5 por 3. Para superar o quadro, fui medicado, e havia até a possibilidade de uma transfusão de sangue, mas não foi necessário porque fiz uma operação e já não tomo mais os remédios” conta o comerciante.

O uso indiscriminado e prolongado de alguns anti-inflamatórios pode aumentar a probabilidade da pessoa ter um enfarto, alerta o cardiologista e pesquisador José Geraldo Mill.

“Já foi constatado que o grupo de anti-inflamatórios coxibes, usado por pacientes com dores articulares e lesões musculares crônicas, pode causar problemas no coração. Eles funcionam como analgésicos, porque acabam com a sensação de dor, mas se forem usados por muito tempo geram riscos à saúde”, afirma Mill.

Os anti-inflamatórios são fáceis de se encontrar na farmacinha caseira de quem tem filhos. Porém, não podem ser a primeira opção das mães na hora de medicar as crianças, avisa o pediatra Severino Dantas.

Infográfico sobre ação dos anti-inflamatórios

Cuidado
“Esses medicamentos não são indicados para crianças com menos de seis anos. A administração desses remédios deve ser feita com muito cuidado, pois eles podem causar alteração gástrica”, avisa o médico.

Além dos efeitos colaterais, há outra ameaça, a de mascarar doenças sérias, deixando que evoluam. O anti-inflamatório atrapalha as defesas que tentam expulsar o intruso do organismo, e a infecção se prolonga ou até fica mais grave. A criança aparenta estar melhor, enquanto uma bactéria nociva não para de se multiplicar.

“O anti-inflamatório atua para bloquear algum processo inflamatório, uma reação de um trauma ou da presença de um invasor. Inflamação não é igual a infecção. O uso rotineiro do anti-inflamatório pode esconder uma doença mais séria, que pode ficar mais grave”, alerta Dantas.