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Número de casos de câncer de colo de útero pode ser maior do que o estimado


23/01/2012
Estadão   |   Comunicação/Simes


O Brasil pode fechar o ano com um número de casos de câncer de colo de útero muito
superior aos 17,5 mil estimados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). Apesar do
número alarmante, o diretor do Instituto Oncoguia, Rafael Kaliks, considera a projeção do
Inca conservadora. ³Existe uma variabilidade muito grande do número de casos por 100
mil habitantes entre os estados e não tem motivo para uma região ter muito maior
incidência do que outra. Existem locais onde os números não estão sendo documentados deforma adequada´, afirmou o oncologista.
Kaliks destaca, por exemplo, a situação da doença na Região Norte do país, onde o câncerdo colo de útero ainda é o tipo de câncer que mais mata mulheres. ³É mais comum que ocâncer de mama. Se pensar que se trata de um câncer que se pode prevenir e que
ninguém deveria morrer por esta doença, já que com a detecção precoce existe cura, é
uma tragédia permitir que esta seja a principal causa de morte por câncer na região.´
Para o diretor do instituto responsável pela divulgação de informações sobre vários tipos
de câncer, apesar de todos os esforços que o governo vêm fazendo desde a década de
1990, os casos da doença estão aumentando. Kaliks elenca duas razões para o cenário
estabelecido. A primeira delas é a baixa adesão das mulheres ao exame de papanicolau.
³Ou o papanicolau não está sendo feito nunca ou está sendo feito de forma irregular. O
segundo motivo é que mesmo que uma mulher seja diagnosticada, em determinadas
regiões, até que ela seja tratada, podem se passar meses e até um ano. E, nesse período deatraso do tratamento, a doença acaba se espalhando ou se tornando intratável. Quando amulher chega para operar ela não é mais operável e ela acaba morrendo pela doença.´
O oncologista diz ser inaceitável que uma mulher morra por esse tipo de câncer em pleno
século 20 e defende a inserção da vacina contra o HPV (vírus do papiloma humano,
principal responsável pelo câncer do colo de útero) no calendário de imunização da rede
pública de saúde. ³Se você tem cinco projetos de melhoria do rastreamento [exame e
diagnóstico do vírus] ao longo de 20 anos e, apesar da implementação desses cinco
projetos, a mortalidade está aumentando, você tem que ser honesto e dizer \'vamos fazer
mais alguma coisa?\'´, afirmou o especialista criticando a posição do governo que ainda não
incluiu a vacina no programa nacional.
³Além da educação sexual, teria o uso da vacina que diminui em 90% ou mais o risco do
aparecimento de lesões pré-malignas. O governo se apoia no argumento de que não se
sabe se ocorrerá redução dos casos de câncer para dizer que não está justificada a
incorporação da vacinação contra HPV na rede pública. Quando o mundo inteiro está
aderindo a essa vacina´, disse Kaliks.
Por outro lado, o Ministério da Saúde garante que as negociações com os laboratórios estãoem andamento. ³O Programa Nacional de Imunização do Brasil é um dos mais completosdo mundo. Temos agora três vacinas que estão sob análise [vacina contra hepatite A.
Antes de incluir uma vacina, o Ministério da Saúde tem quefazer vários estudos porque precisamos zelar pelos recursos da área, que já são menoresdo que deveriam ser, e temos que ter a certeza que cada vacina vai representar umavanço na saúde das pessoas´, explicou Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde,do Ministério da Saúde.
Pelos cálculos do ministério, hoje são gastos R$ 1,6 bilhão em todo o programa de
vacinação. Os gastos com a nova vacina representariam R$ 700 milhões só no primeiro
ano. ³A vacina já reduziu bastante o preço porque ela foi um relativo fracasso no mundo.
Essa vacina só foi implementada em cerca de 30 países. Nos Estados Unidos, a cobertura
chega a 30%, ou seja, com impacto epidemiológico praticamente nenhum. É uma vacina
injetável, que precisa de três doses. Não é uma bala de prata mágica que a pessoa toma
uma dose e fica protegida do câncer´, disse Barbosa, alertando que, mesmo imunizadas, asmulheres precisam continuar se submetendo aos exames periódicos.
O secretário destacou que a vacina só apresentaria impactos daqui a 30 anos, já que os
testes, segundo ele, mostram eficiência apenas entre meninas de 9 a 12 anos de idade. ³A
vacina não teria qualquer impacto sobre os casos deste ano. Se vacinar em 2012 só
esperaria algum impacto a partir de 2042. A preocupação que a gente tem de ter é com a
saúde da mulher. Pensar quais as barreiras que, apesar dos avanços na ampliação da
cobertura, existem? Em alguns lugares é a dificuldade de acesso, algumas barreiras são
culturais ou de falta de informação´, ponderou Jarbas Barbosa.
Ainda segundo o ministério, as vacinas disponíveis hoje não cobrem todos os sorotipos do
HPV. ³Os próprios fabricantes estão desenvolvendo vacinas de nova geração que
cobririam oito a nove sorotipos. Na negociação que o Brasil já está fazendo queremos
garantir que o custo seja aceitável e que, quando fizer o acordo de transferência de
tecnologia, esteja garantido que vamos ter acesso a essa segunda geração de vacinas. Se
não teremos uma vacina antiga que cobre menos de 70% dos sorotipos´, explicou Barbosa.