SIMES | Notícia
Simes

Notícias

Especialistas discutem como enfrentar as 'doenças negligenciadas'


17/02/2016
*Com informações da Agência Senado


Foto: Valéria Amaral

De 1992 a 2000 a vida da servidora pública do Distrito Federal Marly Araújo, 61 anos, foi um tormento. Foram anos de peregrinação a serviços públicos e privados de saúde - período em que foi tratada até como doente mental - para obter o diagnóstico de um mal silencioso e estigmatizante: a hanseníase.

Marly foi vítima de uma doença considerada negligenciada, assim como a tuberculose, a leishmaniose, a doença de Chagas, a sífilis congênita e outras que afligem a humanidade há séculos e que, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), não receberam a devida atenção das autoridades, da indústria farmacêutica e das instituições de pesquisa. O tema foi debatido nesta terça-feira (16) pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, sob a presidência do senador José Medeiros (PPS-MT).

Integrante do Grupo de Apoio às Mulheres Atingidas pela Hanseníase (GMAH), Marly defende ainda o estudo obrigatório das doenças negligenciadas em todas as escolas de Medicina do país:

- Os médicos saem sem saber nada de hanseníase. Por isso, brigo pelo diagnóstico correto e rápido para ninguém sofrer o que eu sofri - disse.

Formação

A falta de preparo dos profissionais de saúde foi debatida em boa parte da reunião. Os especialistas da área concordaram que há deficiências na formação dos estudantes. O diretor de Assuntos Jurídicos da FENAM, Eglif Negreiros, demonstrou preocupação com a atual formação médica.

- Este tema é muito preocupante para nós médicos, pois queremos tratar bem os nossos pacientes e, para isso, os médicos devem estar muito bem aparelhos de conhecimento e ter condições de trabalho. O fato é que as doenças negligenciadas não despertam interesse das empresas farmacêuticas para produção de novos medicamentos e vacinas, afirmou o diretor da FENAM.

Já o diretor de Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, Vinícius Ximenes, ressaltou que o MEC vem realizando um ciclo de reformas nas diretrizes curriculares nacionais. Segundo ele, mudanças importantes foram feitas em 2001 e em 2014 para ''deixar o ensino médico à altura dos desafios do século 21''.

Para Ximenes, a evolução tecnológica e a especialização da medicina ao longo dos anos mascararam a fragilidade dos profissionais: a clínica geral.

- Muitos são excelentes especialistas, mas a bagagem clínica é deficitária, do ponto de vista do conhecimento geral - reconheceu.