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Defensoria faz inspeção no São Lucas e aponta: até o banho dos pacientes é em bacias


06/08/2014
ESHOJE

Nem chuveiro, nem ralo. O banho dos pacientes do Hospital Estadual São Lucas é feito em bacias. Esta foi uma das constatações do núcleo de saúde da Defensoria Pública capixaba, que na manhã desta sexta-feira (01) fez uma inspeção no local. Os defensores, acompanhados pelo Sindicato dos Médicos do ES (Simes), comprovaram, ainda, que os problemas já denunciados na unidade, como superlotação e falta de infraestrutura permanecem.

Segundo o defensor Elias Gemino, a infraestrutura do hospital é péssima e medidas administrativas devem ser tomadas com urgência. “Tem pacientes nos corredores esperando há semanas por uma vaga na UTI. Pudemos constatar que a sala de banho dos pacientes não tem chuveiro e nem ralo, o banho é dado em bacias. Vamos tomar medidas administrativas para que o Estado agilize a entrega do Hospital São Lucas, no Forte São João, para que os pacientes saiam dos corredores”.

Já o outro integrante do núcleo, Luiz Cézar Coelho, explicou que a ação aconteceu após diversas denúncias de familiares e pacientes que já foram atendidos no local. “Recebemos diversas denúncias, de três a quatro vezes por semana familiares de pacientes vem até a Defensoria buscando leitos, principalmente em UTIs. Outra informação que apuramos é que a empresa responsável pelas transferências de pacientes demora dias para realizar o procedimento, isso prejudica automaticamente outros pacientes, porque aguardam a liberação de um leito”, contou Coelho.

Os defensores públicos lembraram também, que essa é uma situação recorrente, que há muitos anos os problemas diagnosticados em hospitais estaduais são os mesmos. Um dos motivos apontado pelos integrantes do Núcleo de Saúde da Defensoria Pública foi má gestão do poder público e que isso tem provocado uma verdadeira ‘bola de neve’ de problemas relacionados à saúde pública.

“Essa é uma situação que se multiplica. É muito importante ressaltar que o corpo médico e a equipe técnica são de ótima qualidade, mas a insuficiência de leitos está sobrecarregando o hospital e atrapalha o sistema de gestão. Os corredores estão lotados, paciente aguardar por leito em corredor é ilegal. O cidadão capixaba que não tem recursos financeiros para pagar um advogado, deve procurar a Defensoria Pública Estadual, nós prestamos assistência jurídica integral gratuita”, explicou Lucas Marcel da 2ª Defensoria Fazendária.


“As mortes estão aumentando”, diz funcionária

Para a técnica de enfermagem Maria Inês, que trabalha no São Lucas há 15 anos, a situação no hospital é caótica e tem piorado cada vez mais. Segundo ela, o número de mortes tem aumentado. “Desde sempre foi assim, mas está piorando. O Hospital Central não aceita pacientes com complicações e mandam para cá, o que acaba afogando o São Lucas de pacientes. A gente fala que o paciente que entra na Sala Vermelha (pacientes de categoria grave), um CTI, disfarçado não sai mais, ficam esperando uma vaga e acabam morrendo, e esse número de mortes está aumentando”, afirmou Maria Inês.

A técnica de enfermagem contou ainda que as coisas não vão mudar com a reabertura do São Lucas, localizado no Forte de São João. Segundo Maria Inês o hospital vai funcionar de portas fechadas, ou seja, só serão admitidos pacientes transferidos de outros hospitais.

“Vai voltar funcionar de portas fechadas, sem atender diretamente à população. Quero ver abrir lá e fechar aqui, quero ver se eles conseguirão bater as metas. Não querem abrir mais pronto socorro, e aqui continua assim, com corredores lotados. Tem paciente que fica 20 dias esperando transferência para algum leito, 20 dias é uma média, tem gente que fica mais. As condições são precárias no atendimento ao paciente, mostrei tudo para os defensores”, concluiu a técnica, Maria Inês.

De acordo com o presidente do Simes, Otto Baptista, estão previstos mais quatro inspeções a serem efetuadas em Prontos Atendimentos (PAs), Unidades de Saúde e Hospitais Estaduais. “Essa ação foi uma blitz para justamente flagrar o caos instalado no São Lucas, e ainda vão acontecer novas inspeções em outras unidades. Há cinco anos que o São Lucas está instalado no espaço cedido pelo HPM, o que verificamos no local é um atentado contra o ser humano, são pessoas no chão, nos corredores empilhados, é falta de higiene, é um cheiro horrível, são pacientes aguardando vagas em UTI, banalizaram a vida e o respeito à humanidade”, afirmou o presidente.


Secretário garante reabertura do São Lucas em setembro

Segundo o secretário estadual de Saúde, Tadeu Marino, os investimentos são constantes, e culpou as administrações anteriores. “Os principais agentes causadores do caos na saúde capixaba foram ausência de investimentos, falta de planejamento e investimento tardio nos últimos 10 anos. Não somos como hospitais da iniciativa privada que quando não há mais leitos, não aceita mais pacientes, não podemos fechar as porta para ninguém. Seria mais fácil fazer reformas se não tivéssemos pacientes nos corredores, e corredor não é lugar de paciente, mas para onde eles iriam?”, questionou Marino.

Sobre o novo Hospital Estadual São Lucas, Marino informou que a partir de setembro deste ano, o hospital começa a atender o seus primeiros pacientes. Serão 175 leitos, sendo 54 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A obra da quarta etapa s já está licitada, no local será construído o pronto socorro, sala de choque e mais leitos de UTI e o heliporto, subindo a capacidade de atendimento para 275 leitos.

A inspeção no Hospital Estadual São Lucas durou quase três horas. O Simes cogita pedir interdição da unidade. O secretário se mostrou contrariado como foi realizada a inspeção e disse que entrou com uma representação no Ministério Público Estadual contra os defensores públicos e o presidente do Simes, por desrespeito e ameaça contra uma funcionária pública estadual.