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Falta de leitos atinge todas as classes sociais


14/11/2012
Jornal do Comércio   |   Cláudia Rodrigues Barbosa

O Sistema Único de Saúde (SUS) não funciona por vários motivos. Os investimentos públicos são escassos, não há uma rede adequada, nem profissionais em quantidade e qualidade compatíveis com a demanda do País. O presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Luiz Augusto Facchini, afirma que essa é uma realidade corriqueira para a população, independentemente da classe social. Para discutir a temática Desafios da Saúde Pública no Brasil, a entidade promove o 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva.

Jornal do Comércio - Qual sua avaliação sobre a eficácia do SUS?
Luiz Augusto Facchini – O SUS é um patrimônio do País. Ele é destacado no exterior pela relevância de pertencer a mais de seis milhões de habitantes, cuja saúde é assegurada como um direito constitucional, e mais, um dever do Estado. O sistema garante um conjunto completo que vai desde a vacina até ao transplante de coração. Mas ele não funciona como deveria e poderia. É preciso priorizar a saúde como um bem público e investir em estrutura física e pessoal, tanto em quantidade como em qualidade. O fato de uma pessoa ter dinheiro não é garantia de leito, nem de atendimento. Há barreiras de acesso no atendimento, inclusive nos hospitais privados ou para quem conta com planos de saúde caros. O problema da saúde é universal. Claro que o pobre sofre mais, mas o rico também enfrenta dificuldades. Trata-se de uma equação complicada que envolve o conjunto de funcionamento da rede como um todo. Os planos de saúde, por sua vez, põe obstáculos ao acesso porque para eles o que interessa é que a pessoa não fique doente. Assim, eles ficam com o dinheiro dessa pessoa que não dá gastos. Quando ela fica doente e passa a causar gastos, surgem essas barreiras, limitando o número de acessos aos atendimentos e burocratizando os processos.

JC - E a situação das emergências?
Facchini - A rede de saúde tem muitas deficiências. O cidadão vai até a Unidade Básica de Saúde, mas chega lá e ela está fechada, não tem ficha, não tem médico. Quando tem ficha, para conseguir uma é preciso madrugar na fila. Com tudo isso, é muito mais fácil se dirigir direto para uma emergência, que acabará ficando lotada. O cenário só piora se levarmos em conta a falta de leitos.

JC - Algum estado brasileiro se salva deste cenário?
Facchini - Em Santa Catarina está a melhor rede de saúde do País. A organização da rede deles é exemplar porque houve um compromisso de construir esse processo independentemente de partido político, desde 1988, quando surgiu o SUS. Quando o Saúde da Família só existia no Nordeste, eles decidiram testar o sistema na sua rede e funcionou. Lá, os municípios ricos investem de forma adequada. As Unidades Básicas de Saúde são de alta qualidade. Atualmente, eles têm problemas, mas não enfrentam essa sobrecarga de demanda e possuem uma média de satisfação melhor do que a nacional.

JC - Como a Abrasco vê a proposta do governo estadual de reduzir o investimento de 12% na área?
Facchini - A Abrasco acredita que todos os estados precisam cumprir a regulamentação da lei, destinando os 12% para a saúde. Também achamos que o governo federal deveria investir mais na área. Além disso, é imprescindível uma boa gestão para poder lidar de maneira satisfatória com os recursos disponíveis. O Brasil é rico, mas não é desenvolvido. A saúde não acompanhou os avanços da economia.

JC - Qual a expectativa para esta 10ª edição do congresso?
Facchini - Neste ano, o tema do encontro, que pretende reunir cerca de 8,5 mil participantes, tem como foco o tema Saúde é Desenvolvimento: Ciência para a Cidadania. Não podemos esquecer a importância do desenvolvimento científico na área da saúde. Esse tipo de investimento vai fortalecer a capacidade de pesquisas nas universidades, além de ajudar a identificar problemas e oferecer alternativas. Consequentemente, vamos qualificar ainda mais a formação de médicos, enfermeiros, pesquisadores e gestores. A ciência pode fortalecer a cidadania. Vivemos em um País que está em processo de envelhecimento. O número de idosos vai aumentar muito nos próximos anos. Precisamos nos preparar para isso.