25/07/2012
Folha de São Paulo | Comunicação Simes
Os
formandos de Medicina do Estado de São Paulo serão obrigados a fazer uma prova
no final do 6.º ano do curso que terá o objetivo de avaliar a qualidade do
ensino. A obrigatoriedade será anunciada hoje pelo Conselho Regional de
Medicina (Cremesp), responsável pela aplicação do exame.
A
avaliação dos recém-formados já é aplicada para os formandos de Medicina do
Estado há sete anos - mas de forma voluntária. Até hoje, 4.821 novos médicos já
se submeteram ao exame, que a cada ano demonstra a falta de preparo dos
profissionais.
No
exame do ano passado, 46% dos alunos que fizeram a prova foram reprovados. Eles
não conseguiram, por exemplo, identificar um quadro de meningite em bebês e
também não sabiam que uma febre de quase 40°C pode aumentar o risco de
infecções graves em crianças.
A
reportagem apurou que a obrigatoriedade da prova passará a valer assim que a
resolução do Cremesp for publicada, o que significa que ela valerá para todos
os estudantes, até para os que já fazem o curso.
A prova
será individual e apenas o formando receberá a sua nota, a menos que haja uma
procuração para que outra pessoa tenha acesso ao resultado. Além disso, apesar
de obrigatório, o exame não vai impedir que o formando exerça a profissão de
médico: mesmo que o recém-formado tire nota zero, ele poderá obter seu registro
no Cremesp.
O que
muda em relação ao que existe hoje é que o Cremesp pretende exigir o
comprovante de realização do exame entre os documentos necessários para que o
profissional consiga obter o registro de médico.
E é
esse o ponto-chave da discussão, já que o Cremesp não tem autonomia nem
competência para vincular a aprovação na prova à obtenção do registro para o
exercício da medicina, como ocorre com os formados em Direito. Para isso, seria
necessário ter uma lei aprovada na Câmara dos Deputados, no Senado e sancionada
pela presidente Dilma Rousseff.
Segundo
Cid Carvalhaes, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, o Cremesp
pode exigir esse documento para o registro profissional, mas não pode impedir
que esse recém-formado exerça a medicina em outros locais do País.
"Isso
é uma das fragilidades do exame. Se um aluno não quiser se submeter à prova e
questionar isso na Justiça, provavelmente ele vai ter o direito de exercer a
profissão independentemente do exame", avalia Carvalhaes.
Segundo
Carvalhaes, o exame será mais um elemento convincente para que, a médio prazo,
os conselhos consigam demonstrar de forma prática a má-formação dos médicos.
"O que se pretende é fazer uma avaliação criteriosa da qualidade do
ensino. A possibilidade de que ela passe a valer em todo o País existe",
diz.
A
proposta de uma avaliação nacional foi apresentada para todos os presidentes de
conselhos regionais de medicina do País, em reunião no dia 11. A experiência de
São Paulo servirá de modelo dentro de um projeto-piloto.
A
medida, entretanto, divide opiniões. A médica Dilza Ribeiro, presidente do
conselho do Acre, vê com bons olhos a avaliação. "Vi com simpatia o que
foi apresentado. O ensino médico está muito ruim. Mas precisamos ver como
aplicar, já que essa prova demanda orçamento."
Nemésio
Tomasella de Oliveira, presidente do conselho de Tocantins, é mais cauteloso.
Para ele, é injusto "punir" o médico exigindo a realização de uma
prova depois de seis anos de estudo. O ideal seria avaliar a qualidade do
ensino nos primeiros anos e corrigir o problema na base.
"São
Paulo é um laboratório, e nós vamos esperar os resultados. Não descartamos a
possibilidade de um dia aplicar esse exame. Mas, definitivamente, essa não é a
melhor maneira de combater o ensino ruim. O problema são as escolas que
deformam."
Abdon José Murad Neto, presidente do conselho do Maranhão,
afirmou ser contra o exame. "É ilegal e uma arbitrariedade. O Cremesp não
pode impedir o recém-formado de se inscrever. Deixar o aluno estudar seis anos
para depois dizer que ele não está preparado para ser médico é uma
covardia", afirma Murad Neto. As informações são do jornalO Estado de S.Paulo.
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