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Ensino Médico no Brasil: MAIS DE 100 ANOS DE ATRASO
27/03/2015
Revista Visão Médica
Foto: Imagem de Internet
Na trajetória mundial, há exemplos bem interessantes de países que resolveram tratar os problemas com o amargo remédio da quantidade e só tiveram problemas, além de perder tempo. Em meados de 1900, os Estados Unidos, então com 87 milhões de habitantes, e o Canadá, ainda sob domínio britânico, com população de 6 milhões, tinham 160 faculdades de medicina com ensino precário, mal equipadas e corpo docente de baixa qualidade.
Quando perceberam que semeavam o caos ao formar médicos aos montes, mas sem conhecimento suficiente, contrataram Abraham Flexner (1866-1959) para elaborar um minucioso estudo do problema e propostas de solução. Foi assim que, após quatro anos, surgia o histórico Relatório Flexner, base da reforma que consumiu mais 25 anos para colocar a casa em ordem, com o fechamento de cerca de 100 desses cursos e o estabelecimento de parâmetros de qualidade para o ensino da medicina.
No Brasil, fazem algumas décadas, passamos por crise semelhante. Seguidos governos, com diversas ideologias, apostam em quantidade, em vez de priorizar a qualidade e o financiamento adequado para atender às demandas de saúde da população.
Nos últimos 44 meses (até agosto de 2014) alcançou-se um recorde jamais visto na história deste país. Neste período foi autorizado o funcionamento de 62 novas faculdades médicas. O Brasil, do ano de 2000 até agora, abriu 136 cursos de medicina. Há algo claramente errado nesse processo: hoje temos 242 escolas médicas, mais da metade nasceram nos últimos quinze anos; as demais, nos cinco séculos anteriores.
O equívoco não atinge somente a graduação. O Governo Federal trabalha em passo acelerado para ampliar o número de vagas de Residência Médica em todo o país.
A residência médica é uma modalidade de ensino de pós-graduação destinada a médicos, sob a forma de curso prático-teórico de especialização, com direito a bolsa de estudos. Funcionando em instituições de saúde, como hospitais-escola, os pós-graduandos realizam atividades profissionais, sob a orientação de médicos preceptores especialistas.
Na carona do programa ''Mais Médicos'', já foi anunciada a criação de 2.822 vagas, sendo, de um ano para cá, 1.609 no Estado de São Paulo. A necessidade de haver vagas de Residência Médica para todos os graduados em medicina é reivindicação antiga das entidades médicas. Entretanto, deve se dar como parte de uma intervenção organizada, com estrutura adequada à boa formação. A proliferação de vagas de forma anárquica e sem critérios preocupa; há boa probabilidade de riscos de danos à saúde e à vida dos usuários dos serviços brasileiros de atenção à saúde, uma vez que tal açodamento pode significar busca populista de mão de obra barata aos cidadãos.
A Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) já está trabalhando para criar parâmetros mínimos de qualidade a serem seguidos em todos os centros de treinamento para que a especialização em Pediatria seja a mais próxima da excelência. Os programas de Residência Médica devem buscar o aperfeiçoamento progressivo do padrão profissional e científico de médicos, bem como da assistência ao paciente. A base começa com infraestrutura adequada e com preceptores (médicos responsáveis por conduzir, orientar e supervisionar a formação dos médicos residentes em suas especialidades) competentes e habilitados, critérios que o inchaço abrupto não possibilita.
No Brasil a conclusão de um Programa de Residência Médica confere ao médico o título de especialista na área cursada ao médico o título de especialista na área cursada, e no sentido de consolidar os conhecimentos adquiridos e dar credibilidade junto a seus pares, ele realiza as provas elaboradas pela especialidade afim, que, no caso da Pediatria, é a Sociedade Brasileira de Pediatria.
O Título de Especialista em Pediatria, obtido por meio da Sociedade Brasileira de Pediatria, confere ao seu detentor credibilidade para sua atuação profissional, tornando o paciente menos vulnerável.
É imperioso que haja efetividade no ensino. Por isso, nossa vigilância neste momento é para orientar o treinamento. Só dessa forma formaremos profissionais de qualidade para assistir à criança e ao adolescente, em vez de utilizar Residência somente como mão de obra barata. Os residentes devem ser sujeitos de treinamento e não objetos de trabalho pouco qualificados.
A SPSP considera imperioso participar ativamente do processo de criação das vagas, inclusive oferecendo parâmetros e sugestões à Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação. Afinal é sua missão zelar pela qualidade dos futuros pediatras e pela assistência competente às crianças e adolescentes.
Inclusive temos promovido qualificadas discussões e elaborado projetos de treinamento de preceptores para que eles, por sua vez, possam adequadamente treinar seus residentes.
A população brasileira de crianças e adolescentes, bem como os jovens médicos que decidem tornarem-se pediatras, merecem todo esse respeito de uma sociedade científica e ética.
O Brasil possui 216 faculdades de Medicina. O número é superior à China, com 150, e Estados Unidos, com 149, países de população maior que a do Brasil.
Em 14 anos, ou seja, de 2000 até 2014, a quantidade de Faculdades de Medicina no país dobrou.
O crescimento de 60% do setor se deve às faculdades particulares.
Mais de 19mil estudantes de Medicina se formam a cada ano.
Aproximadamente 60% dos médicos recém-formados foram reprovados na avaliação obrigatória no Estado de São Paulo, aplicada em 2013, pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) os dados do último exame, realizado em Outubro de 2014, ainda não foram divulgados pelo Cremesp.