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Saúde está entre os desafios para os municípios do Espírito Santo em 2013


30/12/2012
A Gazeta

O ano novo que se anuncia carrega consigo, no Espírito Santo, não só esperanças de mudança, alimentadas pelas promessas de campanha dos futuros prefeitos que assumirão o controle das 78 cidades capixabas pelos próximos quatro anos, mas o desafio de solucionar – ou minimizar – problemas em áreas nevrálgicas. Tarefa que competirá também ao governo estadual.

A começar pela redução do alto índice de homicídios – a taxa é de 50 mortes por 100 mil habitantes, no Estado. Neste ano, somente até a última semana já havia registro de quase 1.600 homicídios – mais de 900 na Grande Vitória.

Pós-doutora em Ciência Política, a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Márcia Barros lembra que não é só o meio ambiente que precisa ser lembrado quando se pensa no avanço da industrialização e do novo ciclo de desenvolvimento no Estado. A atração do fluxo migratório incha as cidades e traz também consequências no campo da Segurança Pública, diz ela.

E o crescimento das cidades, sem o devido planejamento, conforme lembra o doutor em Engenharia e professor da Ufes Rodrigo Rosa, agrava outro problema, já registrado com maior intensidade na Grande Vitória: o de mobilidade urbana. Além de engarrafamentos, os veículos em circulação aumentam também o número de acidentes, causando pressão forte de demanda por leitos hospitalares.

O governo promete aliviar o problema com a inauguração do Hospital Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, e a conclusão da reforma do São Lucas, em Vitória. Mas a saúde também registra baixa capacidade resolutiva nas unidades de atendimento básico das prefeituras.

Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado, Otto Baptista lembra que, desestimulados pela remuneração e pelas condições de trabalho, muitos médicos não querem mais atuar em unidades públicas.

O uso e o tráfico de drogas são outros problemas sérios, com implicações na Saúde e na Segurança. Na Educação, o desafio é garantir mais vagas em creches e na pré-escola, e melhorar a qualidade do ensino fundamental. Já no Meio Ambiente, a coleta e a disposição de mais de 3 mil toneladas de lixo/dia exigem solução.


Saúde


Melhorar o salário pago aos médicos da rede pública é desafio imposto aos novos prefeitos. É que segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Espirito Santo (Simes), Otto Baptista, uma das grandes dificuldades do setor é o insuficiente número de médicos, devido a remuneração e as condições de trabalho ofertadas – inclusive na rede estadual: em média, R$ 3.500 mensais por 20h semanais.

Para Baptista, é também preciso mais investimento no atendimento da rede básica, que compete às prefeituras. É fato que muitos municípios não conseguem manter unidades com bom padrão de atendimento. E sem os recursos e retaguarda necessários, médicos sentem-se inseguros em atuar nesses locais.

A sobrecarga dos hospitais é uma decorrência desse problema. Sem ter como viabilizar um tratamento na rede básica, o doente migra para o pronto-socorro do hospital, que não dá conta da demanda de atendimento.

O governo diz que abriu 155 leitos hospitalares na rede própria e filantrópica nos últimos 18 meses, e promete aliviar o problema com a inauguração do Hospital Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, e a conclusão da reforma do São Lucas, em Vitória.

Trânsito


As prefeituras da Grande Vitória vão ter que se preparar para enfrentar a insatisfação de condutores de veículos de passeio com a implantação dos corredores exclusivos para ônibus, projeto do governo do Estado que terá a primeira etapa implantada até 2016.

É que segundo o engenheiro especialista em transporte e trânsito, Rodrigo Rosa, o BRT tem um problema "grave": a ocupação de espaços já reduzidos nas vias da cidade. "Só na Avenida Reta da Penha, em Vitória, duas ou três pistas devem ser reservadas para a circulação de ônibus".

Melhorar a qualidade serviço de ônibus – para convencer os donos de carros a deixá-los em casa, é um desafio.

Rodrigo Rosa defende também a criação de corredores virtuais nos horários de pico, quando vias transversais seriam fechadas com barreiras, e semáforos seriam liberados para dar fluxo ao trânsito.

Na sua avaliação, a alternativa para desafogar o trânsito na Região Metropolitana passa pela integração de ônibus, aquaviário e até veículo leve sobre trilho (VLT). Ele defende a criação de uma ligação por VLT passando pela Rodovia Leste-Oeste.

Segurança


A industrialização e o avanço, no atual ciclo de desenvolvimento que o Espírito Santo atravessa, trazem também consequências na Segurança. E sem planejamento correto, as cidades cuja população aumenta com a chegada de pessoas em busca de oportunidade de trabalho, também veem a violência e a criminalidade aumentar.

Melhoria na infraestrutura das cidades, com ruas mais iluminadas e dotadas de sistemas de videomonitoramento por exemplo, contribuem para reduzir a violência.

Para a professora da Ufes Márcia Barros, o grande desafio das cidades capixabas na área da Segurança Pública é baixar os índices de homicídios, especialmente de pessoas jovens.

"É preciso fazer pesquisas para se entender a dinâmica dos homicídios. Um passo importante foi dado pelo governo, que lançou edital para realização de pesquisas pela comunidade científica", diz a professora, ao lembrar que "sabe-se dos horários, dos locais, mas não se sabe a razão". Ela diz o homicídio tem várias motivações, entre as quais briga passional, uso de álcool, e tráfico.

Educação

Até 2016, no Brasil, todas as crianças e adolescentes entre 4 e 17 deverão estar, obrigatoriamente, na escola. Esse é um grande desafio a ser enfrentado pelas próximas administrações, já que, hoje, só 40% das crianças de 0 a 5 anos frequentam a educação infantil – 20% creches. E a falta de acesso à pré-escola dificulta a apreensão do conhecimento e da cultura escolar, alerta a professora da Ufes Gilda Cardoso.

A professora sugere gestão associada das prefeituras da Grande Vitória na área da Educação. E destaca a necessidade de a escolha da equipe técnica do setor ser feita com critério, sem barganha política.

Outro desafio das cidades é melhorar a qualidade do ensino. No Espirito Santo, por exemplo, alunos da rede pública não atingiram a meta do Índice de Educação Básica (Ideb). "Fazer um diagnóstico da causa da nota baixa para corrigir o problema, e apoiar a escola que vai bem, são medidas fundamentais", diz Gilda Cardoso.

Ela defende a ampliação da jornada diária nas escolas, argumentando que "quatro horas não representam nada" para o ensino-aprendizagem.

Drogas


Não dá para ignorar a verdadeira tragédia que as drogas têm causado na sociedade. E nos últimos anos, a epidemia do uso de crack, que causa uma forte e rápida dependência, tornou-se um enorme desafio para as administrações públicas. Retrato dessa realidade são as cracolândias que passaram a compor os cenários das cidades.

Especialista em dependência química, o médico João Chequer diz que o grande desafio das autoridades é impedir o acesso de menores de idade às drogas – inclusive tabaco (cigarro). Associado à educação, ele defende ação mais efetiva do poder público no combate ao tráfico de drogas. E lembra que 70% dos usuários de crack e cocaína também fazem uso de álcool.

"A droga é responsável por crimes violentos", lembra ele, defendendo a internação compulsória determinada pela Justiça, mas em unidades estruturadas, com fiscalização de prefeituras e Estado. "Do contrário, elas viram cárceres".

Chequer lembra também que o atendimento ambulatorial precisa melhorar, com oferta de medicamentos necessários para os pacientes. "Hoje, as unidades não atendem nem à demanda de consultas", afirma ele.

Lixo


Nos 78 municípios do Espírito Santo existem 102 lixões. E em todo o Estado, estima-se em mais de três milhões a produção diária de lixo gerado por residências e estabelecimentos comerciais.

Por outro lado, até 2014, conforme Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado com o Ministério Público, na Grande Vitória o desafio das cidades é implantar a coleta seletiva, projeto que ainda caminha a passos lentos até mesmo na Capital.

Depois da universalização do abastecimento d’água, e de se atingir a mesma meta, até 2015, na coleta e tratamento do esgoto, a coleta e a destinação final do lixo, feitas dentro do padrão técnico, representam um grande desafio para o Estado.

Para solucionar o problema, o governo lançará em 2013 licitação para construção de três aterros sanitários e estações de transbordo de resíduos que servirão a 60 municípios que concentram mais de um milhão de habitantes e produzem 1,2 mil toneladas de lixo/dia.

As unidades têm custo estimado de R$ 100 milhões. E a manutenção e operação será feita pelos municípios do interior, de forma consorciada.