Sobre

Comunicação


2 mil médicos deixam planos em um ano
17/02/2016 - 15:52

Foto: Carlos Alberto Silva

Por conta dos baixos valores pagos e das dificuldades em receber, médicos estão deixando de atender pelos planos de saúde e optando por fazer o serviço somente particular. Nos últimos cinco anos, quatro mil profissionais fizeram esta escolha, somente em 2015 foram dois mil.

Os dados são de um levantamento do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Simes), que mostra ainda que são nove mil médicos atuando no Estado e que, na área da ginecologia e obstetrícia, dos 400 especialistas que atendem aqui, 20% já estão trabalhando apenas na rede particular.

''Existem vários fatores para isso. A principal é uma remuneração ruim, que não é atualizada há mais de 10 anos, não acompanha o custo operacional de um consultório, que acaba fechando'', explica o presidente do Simes e diretor da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Otto Baptista. Ele diz que os valores pagos pelos planos de saúde giram entre R$ 35 e R$ 70 por consulta, o que está abaixo do necessário levando em conta o piso salarial do médico (R$ 3.675,91) e também o valor ideal segundo pesquisa realizada pela Fenam.

Considerando os custos de se manter o consultório, além da remuneração do profissional, que é de R$ 77,71 por consulta, médicos defendem que deveriam ser pagos R$ 150 por consulta, sendo recomendado que cada uma dure 30 minutos. O também diretor da Fenam, mas pelo Rio Grande do Sul, Marlonei Santos, explica que esse total foi baseado em um consultório de um cardiologista que atende no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro. ''Certamente há diferença de custos dependendo do local, porém o objetivo de fixar um valor é não ficar no prejuízo''.

DEMORA

Além do baixo valor pago, Baptista destaca queháumademorade60 a 90 dias para realizar o pagamento de consultas e procedimentos e há ainda a chamada glosa médica - não pagamento por parte dos planos alegando falta de documentação adequada, incorreção dos valores cobrados, entre outras coisas.

''Se mando quatro planilhas com nomes de 10 pacientes cada, tenho corte de 30% por glosa e tenho que recorrer'', ressalta o presidente do Simes. Com o crescente descredenciamento, os profissionais que continuam nos planos ficam sobrecarregados, o que prejudica o atendimento e dificulta a marcação de consultas para o usuário, que muitas vezes não encontra disponível o especialista que necessita. ''O tempo da consulta fica comprometido e a quantidade de pacientes é tão grande que quando ele tenta voltar para uma revisão encontra uma agenda lotada'', pontua Baptista.

Operadoras dizem que reajustaram valores

A Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), representante nacional dos planos de saúde, por meio de nota, diz que houve reajuste médio de 43% entre 2008 e 2013 nos pagamentos de honorários a médicos. Os números são repassados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

''As operadoras associadas mantêm canais permanentes de diálogo e negociação com os prestadores de serviços de saúde contratualizados, incluindo os médicos, tanto em nível nacional como regional'', destaca nota da Abramge. No estado por meio de suas assessorias, duas das maiores operadoras de carteiras de plano de saúde no estado, Unimed e São Bernardo, informam que oferecem remunerações justas.

''A Unimed Vitória informa que o quadro de cooperados da operadora se mantém estável e que recebe muitas solicitações para ingresso na cooperativa, o que garante atendimento aos mais de 300 mil clientes'', diz nota da empresa. Atualmente, a operadora conta com mais de 2.300médicos cooperados. Já a nota do São Bernardo Saúde diz que a operadora ''atua de acordo com o mercado e busca valorizar seus prestadores de serviços com remunerações justas e atualizadas''.