A relação entre médico e paciente está doente
04/07/2018 - 16:47
O que está acontecendo entre médicos e a população? Porque tanto conflito, falta de tolerância? Sabemos que nenhum direito se justifica por si próprio, sem a elevação do indivíduo ao epicentro do ordenamento jurídico, e isso já foi feito há exatos 30 anos, com promulgação da Constituição de 1988. Mas cadê?
A Constituição de 1988 foi a primeira Carta Magna brasileira a consagrar o direito fundamental à saúde. Íntima correlação à dignidade humana, um dos fundamentos do Estado. Acertadamente, o direito à saúde foi universalizado, impondo ao poder público a adoção de políticas sociais visando o acesso universal, igualitário e gratuito. E onde estão os serviços? Quase nada é cumprido, num total descaso com a coisa pública. E quem leva a culpa? Médicos! Uma evidente e inaceitável transferência de responsabilidades.
O desprestígio amplo, geral e irrestrito está em alta! Tão honrada profissão indo de roldão. Também impotente, a população não sabe para onde correr e a quem recorrer.
Contrariando a primazia da dignidade humana, direito fundamental à saúde e à vida, vemos a falta de celeridade, de compromisso dos gestores na implementação de políticas públicas sérias. Esses seguem na contramão, indiferentes ao sofrimento e apelos da população, lembrada somente às vésperas das (obrigatórias!) eleições. A desproporção entre o número de médicos nas unidades de saúde e a demanda gera sobrecarga desumana de trabalho, com consequente Síndrome de Burnout. Médicos estão comprometidos com o juramento hipocrático, porém, igualmente exaustos. Sem saberem quem de fato promove o caos, alguns pacientes revoltam-se quando buscam atendimento, perdem o respeito e praticam agressões de toda natureza, quebrando a relação médico-paciente. Aliás, é dessa quebra que resulta o aumento da judicialização da saúde, abarrotando o Judiciário. Se não bastasse, a baixa remuneração no setor público obriga profissionais da saúde a terem vários empregos, estresse diário cumulativo levando muito ao adoecimento, ao sentimento de desprestígio, à depressão. Conquanto desmotivados, esses seguem na direção do cumprimento do juramento feito em prol da vida humana. A isso chamamos: compromisso, misericórdia, amor ao próximo.
A valorização de todos os profissionais da área da saúde e o aperfeiçoamento material são fatores indispensáveis para a efetivação do direito à vida digna, sem isso não fará sentido algum declarar qualquer outro direito. #estamostodosindignados!
Fonte: Suely Rabello - artigo de opinião no jornal