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Hospital recebe leitos, mas ainda há crianças no corredor
09/03/2018 - 15:43

Fonte: Jornal A Gazeta | Foto: Sindsaúde

Um dia após a reportagem da TV Gazeta registrar a insatisfação de pais com a qualidade do serviço do Hospital Infantil de Vila Velha (Himaba), onde as crianças eram atendidas em cadeiras de plástico, a situação no local, na tarde de ontem, já havia melhorado. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), 27 novos leitos foram providenciados. Mas, ainda assim, a situação está longe de ser a ideal.

Natália da Silva Lopes acompanha a filha no Himaba há três dias e três noites. Segundo ela, só a partir da tarde de ontem, o local começou a ser esvaziado e novos equipamentos foram levados para dar mais conforto aos pacientes. "Eles começaram a trazer macas e cadeiras. De todos os dias em que estive aqui, esse foi o melhor. Antes, havia umas 50 mães no corredor; agora há sete, oito", conta a dona de casa.

Mas as reclamações ainda são muitas, inclusive sobre o calor, já que até ontem o ar-condicionado estava quebrado. O sobrinho de Natalia Denicolo, de seis anos, teve alta na manhã de ontem. Mas desde segunda-feira, Artur, que foi diagnosticado com três ínguas na barriga e infecção urinária, precisou dormir em cadeiras de plástico.

Segundo ela, a limpeza também deixava a desejar: "O banheiro estava sujo, miha irmã viu baratas. Antes não era assim. Há três anos o Arthur operou os pés lá e a situação era bem diferente".

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado, Carlos Magno Dalapicola, afirma que um ofício será encaminhado ao secretário estadual de Saúde, Ricardo de Oliveira, e ao diretor técnico do Himaba pedindo providências. "Seriam leitos retaguarda para que as crianças possam receber medicação e serem liberadas ou encaminhadas para internação. A cena de crianças em cadeiras lembra o que vimos no Hospital Infantil de Vitória, que levou à sua transferência para o Hospital da Polícia Militar".

Já o subsecretário estadual de Saúde, Fabiano Marily, explica que, após identificar o aumento da procura pelo hospital em função de um surto de bronqueolite, a Sesa encaminhou 27 novos leitos para o hospital. "Desse total, 12 são para atender pacientes que aguardam por exames e resultados", diz.

ANÁLISE

Mais gastos e menos qualidade

Todas as organizações sociais passam por um processo de avaliação da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) antes de assumirem o controle de hospitais. Mas, no Estado, a maioria delas não possui know-how específico para a gestão de hospitais e oferecem um serviço de gestão a ser aplicado em qualquer setor público. O problema é que, com a terceirização, funcionários de carreira são retirados para dar lugar a novos profissionais selecionados pela organização, com salários mais baixos. Quando chega nessa época de epidemias respiratórias, eles não tem experiência suficiente para dar conta da demanda. Há médicos, pediatras de carreira, que foram afastados do Himaba e que hoje são mal aproveitados em funções adminitraticas. Um hospital gerenciado por organizações sociais gasta cerca de 2,4 vezes mais sem atender plenamente as necessidades dos pacientes.
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Francis Sodré
Professora da Pós-Graduação em saúde coletiva da UFES