Para especialista, estão querendo culpar médicos por mazelas na Saúde
26/10/2017 - 19:03
Teresina recebeu o 9º Congresso Brasileiro sobre a Situação do Médico e IV Fórum Médico Jurídico do Piauí, quando foram discutidos temas de relevância para a categoria médica e para a sociedade, contando com palestrantes convidados de fora e locais, além da presença autoridades piauienses. O evento aconteceu na sede do Sindicato dos Médicos do Piauí (SIMEPI). Entre os convidados esteve o palestrante Dr. Otto Fernando Baptista, que é vice-presidente da Confederação Nacional dos Médicos (CNM) e presidente do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (SIMES). O palestrante evidenciou a situação da saúde brasileira, assim como a da categoria da qual faz parte.
De acordo com ele, foi-se criada uma situação de responsabilização do médico pelas mazelas da saúde do nosso país. Se ouve muito falar que o médico não quer trabalhar ou que não sabe trabalhar. Isso vem de uma responsabilização da classe médica pelo sucateamento da saúde, onde o médico trabalha atendendo uma quantidade enorme de pacientes, evidenciando uma sobrecarga de trabalho, quando muitas vezes não tem o material necessário para atender a população e existe também um desmantelamento na atenção básica, explica.
Citando como exemplo, o médico falou do caso de um de ações judiciais que pedem a penalização com prisão, multa e processo de improbidades administrativas direcionadas diretamente a médicos devido à falta de leitos em hospitais públicos. Leitos esses que, para a sua ampliação, dependem de investimentos públicos. "Médicos estão sendo penalizados pelo cenário político e medidas que foram tomadas por eles. Nós perdemos muitos especialistas que, de certa forma, foram substituídos por médicos estrangeiros, já que preferiam investir nesse intercâmbio. Houve uma concorrência desleal com o pagamento de um salário base de R$ 1.900 e R$ 10 mil para os médicos que vieram de fora. O desemprego da classe médica é uma realidade também por conta da abertura desenfreada de faculdades de medicina. Saem anualmente 25 mil médicos formados. Temos um bolsão de médicos desempregados ou subdesempregados trabalhando sem contrato, conta.
Lembrou-se de um caso de um médico lotado no Pará que ficou meses sem receber regularmente seu salário e sem conseguir sair do local onde estava por falta de dinheiro. Ele viu a oportunidade de emprego promissora. Recebeu o primeiro salário, o segundo atrasou, o terceiro não veio todo, não recebeu o quarto e assim foi indo. Ele ficou sem ter como sair daquela realidade. Isso caracteriza trabalho escravo, observa o vice-presidente do CNM.
Além do Dr. Otto, também palestraram no Congresso o representante da Saúde Suplementar da FENAM, Marlonei Santos, o vice-presidente do SIMEPI, Renato Soares Leal, a Procuradora do Estado do Piauí, Keila Martins Paz, o Presidente da CNM, Geraldo Ferreira Filho, entre outros. Durante o evento foi discutida a situação do médico nos seguintes pontos: pejotização no aspecto trabalhista e tributário, responsabilidade civil da pejotização, terceirização do setor da saúde, defesa médica, acumulo de cargos públicos, papel dos sindicatos e despolarização médica.