Sobre

Comunicação


A precarização do trabalho médico: salvar uma vida perdeu o seu valor
18/10/2017 - 17:08

O Dia é do Médico, mas os motivos para comemorar já não existem mais. O clamor popular com a figura do médico é, de fato, como simplifica a definição de arcaico: ultrapassado. A carreira da medicina, que tem como sua única função salvar vidas, não tem mais valor algum. Médicos apontados como responsáveis pelo caos na saúde encobrem a incompetência das gestões municipais, tonando-o, assim, um profissional amplamente desvalorizado.

Prefeituras em todo o país ofertam salários miseráveis e modelos de contratação abusivos através de “pejotas”, RPAs e contratos ilegais. Esses modelos, majoritariamente, abusam da carga horária do profissional, oferecem salários que caíram drasticamente nas ultimas décadas e a justificativa é sempre a mesma: com a crise financeira, é pegar ou largar – e o médico recém-formado, geralmente, pega.

Entre os anos de 2013 e 2015, o país saltou de 148 para 349 faculdades de Medicina. Com isso, estima-se que 78% dos novos médicos a ingressarem no mercado de trabalho terão sua formação em instituições de ensino privadas financiados pelo FIES.

Os números, de fato, assustam e explicam porque a precarização do mercado de trabalho médico se dá na origem da formação desse profissional. Considerando uma mensalidade a 6 mil reais, em média, o jovem recém-formado terá uma dívida de 1,340 milhão para pagar em 18 anos. A urgência em garantir o primeiro emprego e se inserir no mercado faz com que o médico aceite contratos abusivos e destrutivos à sua carreira.

O Sindicato dos Médicos do Espírito Santo fez um levantamento dos salários oferecidos em todo o Estado, para avaliar se, de fato, o piso da categoria é respeitado e quais os gestores carregam a marca de municípios exploradores da classe médica. No Estado, apenas os municípios de Iconha, Itapemirim, São Matheus e Itaguaçu possibilitam ao médico alcançar o piso salarial, somando o salário de 20 horas às gratificações deste profissional.

O radar negativo, no entanto, conta com a maior parte dos municípios. Salários defasados e que humilham a categoria são realidade em todo o território Estadual. Enquanto a média ofertada em concursos varia entre 2 mil a 2,8 mil reais mensais, alguns municípios jogam por terra toda a luta de classes e os valores da categoria médica. Salários abaixo dos R$ 2 mil são a realidade de muitos municípios, que pagam entre R$ 1.582,23 e míseros R$ 970,69 para 20 horas semanais de trabalho do médico. A população fica amplamente desassistida, enquanto os gestores seguem destruindo a carreira médica aos quatro cantos do Estado.