Sobre

Comunicação


Médicos e riscos de acidentes de trabalho
26/06/2017 - 14:53

Os perigos vão desde o contágio com microrganismos perigosos, como os vírus HIV e os que causam hepatites, a lesões com materiais perfurocortantes, passando por patologias emocionais graves, decorrentes do estresse. Nas unidades públicas, o ambiente é ainda mais propício aos acidentes. Isso porque os hospitais estaduais e as unidades de saúde dos municípios sofrem com a falta de itens básicos para higienização, com a superlotação, com a ausência de espaços para isolar pacientes com doenças infectocontagiosas, além de equipes insuficientes para realizar os procedimentos, conforme os protocolos de segurança.

Também é muito comum a ausência dos Equipamentos de Proteção Individual, os já conhecidos EPIs. De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a categoria de saúde é, seguramente, uma das que mais se acidenta durante o expediente de trabalho. Com um agravante: as intercorrências não são notificadas, na maioria dos casos.

Na prática, Estado e prefeituras não investem na segurança de seus profissionais. Um exemplo é a norma regulamentadora NR 32, publicada em 2005, que trata das medidas para garantir a segurança dos trabalhadores dos serviços de saúde. Em muitos casos, a legislação é desconhecida ou descumprida. Além disso, a fiscalização é falha.

Os hospitais ou unidades de saúde só se adequam após uma notificação, penalidade que nem sempre é garantia do acerto de conduta. Ou seja: as instituições não fazem o recomendável, que é proteger a saúde de seus  trabalhadores, prevenindo as doenças ocupacionais. Exercendo um ofício de extrema responsabilidade, os médicos vivem ainda o estresse dos plantões em unidades superlotadas, sucateadas, mal aparelhadas e com equipes incompletas.

O resultado tem sido  profissionais mais sujeitos ao erro. Podemos citar o exemplo de uma médica que realizou,  sozinha, num hospital municipal do interior do Espírito Santo, uma cirurgia de médio porte sem auxílio da equipe de enfermagem. O hospital municipal estava sem servidores suficientes para fazer o revezamento nos plantões. Durante o procedimento, uma gaze permaneceu no organismo da paciente, que ingressou com processo judicial.

Neste ano, a Justiça absolveu a médica comprovando que não havia condições para se realizar a operação. Contou para a inocência da profissional o fato de não haver, no momento da cirurgia, equipe auxiliar de  enfermagem. A escolha da médica foi apenas uma: ter êxito em salvar a vida da paciente. Os doutores têm sido vítima ainda de  agressões, que vêm ocorrendo com mais frequência no sistema público de saúde. Os principais motivos estão  ligados à falta de estrutura das unidades, sendo a insatisfação pela demora no atendimento a principal causa dos  atos de violência contra os médicos.

O triste saldo é que, na atual conjuntura, tanto profissionais quanto seus  pacientes estão na mesma situação preocupante: adoecidos por um sistema perverso, que necessita de mudanças urgentes!