Fonte: Bárbara Becalli | Jornal A Tribuna Foto: LEONE IGLESIAS/AT
Conforme noticiou o jornal A Tribuna, nesta quinta-feira (29/09) em busca de remédios, cirurgias e internações, 8.541 pacientes entraram na Justiça neste ano contra o governo do Estado, para conseguir os procedimentos de graça pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Somente para medicamentos, são 1.832 pedidos e para internações, 1.527. O total de gastos no primeiro semestre de 2016 foi de R$ 27,2 milhões.
A judicialização da saúde é um tema que está sendo debatido e julgado no Supremo Tribunal Federal (STF), para sinalizar como deverão ser as decisões nesse sentido. Em muitas decisões, os juízes consideram o direito de todo brasileiro à saúde, previsto na constituição federal.
Porém, o custo que as ações têm ocasionado ao governo, atingindo os cofres públicos, fazem com que o orçamento extrapole. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o medicamento mais caro, concedido pela Justiça neste semestre, tem um custo de R$ 15.270,00 e custo de tratamento semestral de R$ 549.695,42.
Para o advogado Luiz Télvio Valim, especializado em Defesa Médica e responsável pela assessoria jurídica do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo, a judicialização da saúde não atende aos interesses da coletividade. ''Todos perdemos com isso. O custo que está sendo direcionado a um indivíduo poderia ser usado para remédios e tratamentos de muitos outros.''
Para Télvio, parâmetros precisam ser adotados pelos magistrados para haver uma contenção, chamada por ele de saudável. ''Defendo o diálogo institucional e a criação de câmaras para dar informações que auxiliem o juiz na decisão.'' O secretário da Saúde, Ricardo de Oliveira, apontou que, em 2015, foram gastos aproximadamente R$ 60 milhões com medicamentos, tratamentos e internações concedidos por meio de ações judiciais. ''De 2011 para 2015, essa demanda cresceu 200%. Não queremos acabar com ela, pois é direito, mas estabelecer diálogo com os atores envolvidos para procurar solução.''
Controle do diabetesFoi preciso entrar com uma ação na Justiça para a técnica de segurança do trabalho Eliane Moro, 38, conseguir um tipo de insulina para portadores de diabete tipo 1 para a filha Fabiana, 16. À época, a menina tinha 11 anos, e Eliane conseguiu uma liminar com a determinação de que o SUS deveria fornecer o medicamento, negado para ela em primeira tentativa, em 24 horas. Após isso, ela ganhou a causa e conseguiu o fornecimento mensal. ''Logo depois, o tratamento dela mudou, passando para a bomba de insulina. Estava preparada para entrar na Justiça novamente, mas me forneceram antes disso.''
O que é judicialização da saúde? É a tentativa de obter por meio de ações judiciais medicamentos, exames, cirurgias ou tratamentos, aos quais os pacientes não conseguem ter acesso pelo SUS ou pelos planos privados.
Os pedidos normalmente são feitos com base no direito fundamental de todo brasileiro à saúde. Por que esse tema está sendo tão debatido ultimamente?Nos últimos anos, o número de processos e o gasto dos governos com ações judiciais têm crescido tanto a nível federal quanto em estados e municípios. O total de processos no Espírito Santo, por exemplo, em 2015 foi de 7.960, levando a um gasto de cerca de R$ 64,2 milhões. No primeiro semestre deste ano, foram 8.541 pedidos, com gasto de R$ 27,2 milhões.
Quando essa prática começou?A partir da década de 1980, com a progressiva constitucionalização dos direitos sociais e as dificuldades do Estado em prover esses serviços efetivamente. O envelhecimento da população, a crise econômica e os cortes no orçamento da saúde contribuíram para o atual aumento dos casos.
O que o Supremo Tribunal Federal (STF) está debatendo?
Os ministros do STF estão discutindo sobre a obrigação do Estado em fornecer medicamentos considerados de alto custo, que estão fora da lista do SUS ou que ainda não são registrados na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que, por isso, não podem ser vendidos no Brasil.
O que motivou esse debate?Dois processos que chegaram ao STF. O primeiro, de 2007, trata de um recurso impetrado pelo governo do Rio Grande do Norte após ser obrigado a fornecer medicamento de alto custo a uma paciente que não tem condições financeiras de comprá-lo. O segundo, de 2009, ocorre depois que uma paciente de Minas Gerais, com doença renal crônica, pediu à Justiça que o governo estadual custeasse o acesso a um remédio sem registro na Anvisa na época, mas aprovado em outros países. Com o pedido negado, ela recorreu.
Por que a decisão do STF é importante?Como o Supremo já decidiu que os dois casos são de repercussão geral, a decisão deve influenciar outras ações judiciais pelo País. A avaliação é esperada por governos, membros do Judiciário, entidades de saúde e representantes de pacientes, entre outros.