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277 médicos cubanos já estão de saída do Estado
22/08/2016 - 14:12

Foto: Simes

Apesar do Ministério da Saúde (MS) ter prorrogado o programa Mais Médicos, os 277 profissionais cubanos que atuam no Espírito Santo já estão se despedindo do Estado. A pedido do próprio governo cubano, os 10.462 profissionais que atuam no país deverão ser substituídos. E segundo os próprios médicos, quem mais perde com isso é a população.

Em nota, o ministério explicou que chegou a prorrogar a permanência dos médicos cubanos que encerrariam as atividades entre julho e outubro para até novembro deste ano. Um dos médicos que já está fazendo as malas é Hector Délio Leonel Boffill Albarez, de 47 anos.

Atuando na unidade básica de saúde de Nova Rosa da Penha II, em Cariacica, há três anos, o médico voltará para Cuba na próxima semana. Emocionado, ele acredita que a interrupção do trabalho poderá comprometer o atendimento à população local, uma vez que o objetivo do programa é oferecer atenção preventiva e básica continuada, além do profissional conhecer bem a realidade social da comunidade.

Albarez também vê um lado positivo na substituição por novos médicos cubanos: a oferta de oportunidade de trabalho e experiência profissional para seus compatriotas. Ele relata, por exemplo, que já prestou serviços médicos em pelo menos três países.

''Somos uma nação muito humanitária. Gostamos de ajudar as pessoas e acreditamos que a atenção básica na saúde e também a prevenção podem evitar muitos agravamentos e melhorar a saúde da população, em geral'', reflete.

Com relação à estrutura de trabalho oferecida, ele pondera que são necessárias algumas melhorias, como nos casos em que faltam medicamentos e ferramentas de trabalho. O médico relata que, em casa, terá a oportunidade de rever a esposa e as três filhas. A mais velha está cursando Medicina. ''Vou levar muito do Brasil comigo'', conclui.

Atualmente, no Estado atuam 452 médicos pelo programa, sendo 277 cubanos, 155 brasileiros com CRM do Brasil e 20 intercambistas, segundo o Ministério da Saúde.

CRM e sindicato: prefeituras querem reduzir custos

Tanto para o Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Simes) quanto para o Conselho Regional de Medicina do Estado (CRM-ES), o programa Mais Médicos é uma questão política e não atende ao objetivo de criar vínculo com a comunidade, além de oferecer condições precárias de moradia, principalmente para os médicos estrangeiros.

E as novidades anunciadas pelo Ministério da Saúde (MS) são tentativas de manter o programa funcionando, segundo Carlos Magno, presidente do CRM-ES. Evidência disso, segundo ele, é o interesse em aumentar o tempo de atuação dos residentes que optam pelo Provab.

''Seja por um ano ou três anos é um programa que não vai proporcionar continuidade junto à comunidade, pois no final do Provab, o médico residente vai deixar o programa em busca de uma especialidade e de um melhor mercado de trabalho. A diferença de 10% é significativa demais'', critica.

Outra crítica de Magno é em relação às prefeituras municipais, que segundo ele, visam a redução de custos priorizando a contratação de médicos do programa, pois eles são pagos pelo governo federal.

Para ele, a solução seria um plano de carreira no Estado, pois os médicos não dependeriam da administração municipal e ainda poderiam desfrutar de crescimento profissional e melhores condições de trabalho.

Condições essas que são precárias, principalmente, para os estrangeiros, segundo o médico Otto Baptista, presidente do Simes. ''São alocados de qualquer maneira pelas prefeituras e muitos são acomodados em locais insalubres, com alimentação de má qualidade'', critica.

Ele alega que o programa serve de sobrevivência para os municípios que não teriam verba para manter um quantitativo de médicos dentro de sua folha de pagamento. ''Sai muito mais em conta o município manter auxílios moradia e alimentação, mesmo em condições precárias'', conclui.

Municípios podem cancelar

O reajuste no auxílio-alimentação e moradia aos médicos do Programa Mais Médicos, sugerido pelo Ministério da Saúde (MS), poderá provocar desistência do programa em diversos municípios capixabas. Além disso, a substituição dos médicos cubanos não é bem vista pelas prefeituras.

A informação é do presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes), Dalton Perim. Segundo ele, o custo médio com a equipe do programa, que conta com um médico, enfermeiros, auxiliares e dentistas, chega a R$ 30 mil por mês, o que já representa dificuldade para algumas cidades, que têm que pagar os auxílios.

''Com a exigência de aumento desses benefícios, muitos vão sacrificar o Mais Médicos, mesmo porque o programa é opcional, não constitucional, o que não obriga a manutenção'', explica.

Em sua avaliação, o programa tem beneficiado a população e tem sido muito elogiado pelos pacientes. Com relação à crítica do Conselho Regional de Medicina (CRM-ES) sobre os municípios estarem priorizando o Mais Médicos como forma de economia, Perim disse ''que se trata de uma oportunidade de oferecer um mesmo serviço com um custo menor''. ''Isso é administração'', conclui.